quinta-feira, 14 de abril de 2011

P.69 - Quando os Frangos eram Pitos e Outros Bichos

E o camarada Vasco responde ao Bando: Se a lágrima do “ Bando “ se quedou no canto do olho, a minha rolou de imediato e poderia ser analisada como aconteceu com a que foi vertida nesse belo poema de António Gedeão “ Lágrima de preta “. Se esta lágrima, depois de analisada, mostrava muita água e cloreto de sódio, a minha, sujeita a análises em laboratórios melhor equipados, mostraria muito de agradecimento, de respeito e de amizade por esses bons corações de homens do Porto, meus queridos companheiros da guerra da Guiné, muitos dos quais não conheço pessoalmente, mas a quem dedico amizade sincera. Não, não se trata de amizade tipo facebook e se a minha afirmação pode parecer exagerada para alguns, esses alguns não combateram, por certo, na Guiné e não entendem portanto como nós, os que por lá passaram, porque somos solidários e nos entendemos e gostamos. Quando a maioria esmagadora já ultrapassou os sessenta é para nós muito importante, para além de exercitar a memória, exercitar também a sã convivência, que nalguns “cantinhos”é de cinco estrelas, sendo o “Bando”, um desses locais de privilégio. Não esperava este “miminho” do Jorge ao levar-me a passear pelas ruas e locais específicos por onde eu andei na minha juventude! Terem fotografado locais que a mim tanto me dizem e que moldaram a minha forma de ser e de estar na vida é o presente mais carinhoso que até hoje recebi! Vejo-me ao vosso lado, junto ao 150 da rua do Rosário, como me vejo sentado convosco na tasca do Domingos ou no Zé do Braga, petiscando e bebendo uns canecos de “berdinho”. Confessarei ainda que teria sido o primeiro a dar uma mija no jardim do Carregal, para desinibir algum “bandalho” mais acanhado. Em forma de reconhecimento pela vossa carinhosa reportagem, conto-vos, e como me é fácil recordar todos os pormenores, o meu primeiro contacto com a Invicta, que de certa forma dará corpo ao título deste meu escrito, parcialmente é certo, pois bichos mais “aborrecidos” apanhados noutro local e um ano depois, não caberão aqui…. Terminei o liceu na Figueira da Foz e seguia-se o exame de admissão à Universidade no Porto, onde nunca me havia deslocado. Amigo meu, ali de Aveiro, teria de cumprir o mesmo ritual. Pediu a familiares seus a viver para os lados da Foz, onde ele se instalou, que cuidassem de me marcar um quarto o mais perto possível da faculdade de economia, a tempo situada na praça dos leões. Assim foi feito e não refiro o nome da pensão por não ter a certeza, mas sei, se ainda existe, ir lá ter direitinho…( Duas Nações ? ) Chegado bem cedo no primeiro comboio que saía da Figueira e me transportou até S. Bento, subi com a maleta na mão, passei ao lado da magnífica Torre dos Clérigos, nada cansado, e galguei o resto do caminho. Quando terminou a subida, lá vi os bichos a deitarem água pela boca mesmo de fronte da vetusta Universidade, cortei à direita e nessa praça lá estava a pensão do lado esquerdo.( praça antes de chegar à de Carlos Alberto).O quarto era no último andar, com o tecto esconso, a cama dura e os lençóis um pouco para o amarelado, se comparados com os com que a minha querida mãe me aconchegava todas as noites, cumprindo um ritual que nunca abandonou, me dava um beijinho e me dizia com um sorriso lindo que só as nossas mães têm, misto de preocupação e orgulho : “Vasquito tem juizinho”. Lancei-me no estudo, estive agarrado aos livros toda a tarde e parte da noite, comi uma sandes e cansado deitei-me e adormeci. Acordei pelas três da manhã com comichões esquisitas nas pernas, levantei-me para ir à casa de banho e ao abrir a luz deparei-me com um pelotão de baratas que marchavam em bicha de pirilau e se esconderam com a claridade que de repente se abatera sobre elas. Ao voltar para a cama, levantei o lençol e deparo-me com manchas de sangue e uns bichos esquisitos que me pareciam carraças e que mais tarde vim a saber serem percevejos! Tomei banho de imediato numa casa de banho no corredor, vesti-me e passei o resto da noite a estudar e a olhar desconfiado para o lado, não viesse qualquer outro bicharoco chatear-me…Lá saí daquela espelunca, fiz as provas de matemática e geografia, as chamadas disciplinas nucleares, regressei a casa e passei os dias a jogar a bola na areia, aguardando a saída das notas. Uma bela tarde, no meio de uma jogatana, ouço a voz do sr. Vasco que trovejou da estrada, acenando-me para que viesse ter com ele. “Estou lixado, chumbei!” O rosto fechado do meu pai, quando dele me aproximei, abriu-se e eu ganhei coragem para perguntar: “ vou à oral?” “ Não, meu sacana, dispensaste, já és um universitário, vê lá se ganhas juízo” ; abraçou-me e deu-me, de sua iniciativa, um beijo no rosto, dos raríssimos que me terá dado em toda a sua vida. Tinha tudo para odiar o Porto a ter apenas em conta o primeiro contacto. Ainda bem que o não fiz, pois os tais bichos obrigaram-me a estudar ainda mais. Sempre amei o Porto, como ainda hoje lhe dedico toda a minha amizade, mas se em qualquer momento lhe tivesse qualquer rancor, esse ressentimento teria de imediato sido dissipado pela qualidade humana das suas gentes que vocês, meu querido “Bando”, tão bem representam e personificam! Bem hajam pela Vossa amizade e carinho que me dedicaram neste gesto com que me brindaram. Vasco Augusto Rodrigues da Gama

7 comentários:

  1. Camarada e Amigo Vasco.
    Só um àparte. No Bando, devido à sua reduzida estrutura operacional, mandam todos e não manda ninguém. A figura de Presidente do JTeix45 corresponde, pela força dos estatutos, como que a modos a um equivalente nacional ao do nosso chefe supremo.
    Posto isto, o Bando tem seguido as polémicas das tascas, em que fiquei a perder. Daí saiu a voz do Presidente JTeix45, ultrapassando a constituição, quer dizer, os estatutos, determinando por vox própria e não no facebook, que seria no Zé de Braga a próxima aventura deglutidora. E aproveitando para calcorrear os teus antigos caminhos. Eu não tive nada a ver com o projecto.

    ResponderEliminar
  2. O presidente JTeix45 na sua qulidade estatutária decidiu e bem encaminhar o Bando na romagem que me dedicaram. Então vai para ele o meu abraço de agradecimento extensivo a todos os restantos "bandalhos", incluindo o nosso Jorge Portojo, que na sua modéstia deu a César o que é de César.
    Só dois apontamentos, o primeiro expresso no desejo que tenham gostado do meu texto.
    O segundo apenas para dizer que quando me tornei sócio da Tabanca de Matosinhos me calhou em sorte o número 69!
    Dedico-vos um texto que foi elevado à categoria de poste com o número 69!
    Ele há cada coincidência.
    Um grande abraço ao sr. presidente, ao mestre e a todos os restantes bandalhos.
    Vasco A. R. da Gama

    ResponderEliminar
  3. Tou tramado!!!
    Agora é que a voz se me embarga, os dedos tremelicam no teclado e não deixam a cabeça pensar e no canto do olho tenho que disfarçar.
    E diz ele (Portojo) que não "teve nada a ver com o prejecto"! Quem é que começou com a treta das fotografias e a estória da Rua do Rosário? Eu só dei um empurrãozinho, porque esta zona á volta da Universidade também me diz muito e se calhar, Vasco, nos anos 60, algumas vezes nos cruzamos não só no Zé de Braga, no Domingos, no Progresso, no Luso, no Piolho, no Café Universidade, na Primar (dos doutores) quem sabe, no Zé Bota ou no Papagaio (na trv do Carmo) e muitos outros da Cordoaria.

    Obrigado Vasco pelas tuas palavras amigas para com o Bando, que os Bandalhos embirram que hei-de ser á força o presidente.
    Um abraço de amizade
    cumprim/jteix

    ResponderEliminar
  4. Enternecedor, amigo Vasco!
    É o relato duma realidade da tua vida.
    Contudo, entendo, deves homenagear as baratas pela imposição de uma disciplina de estudo, quando no teu quarto.
    Dá graças ás baratinhas porque doutro modo seria apenas taina, come e dorme, não?

    Porque não substituis os Leões, por Baratas a lançar água pela boca? Era uma bela homenagem.

    Quanto aos Roteiros recriados para ti pelo Portojo e as quezílias presidenciais do jtex45, são sempre muito apreciadas e tidas em nota para a posteridade(acta).

    Bem-vindo sessenta e nove!

    Abraços, do
    Santos Oliveira

    ResponderEliminar
  5. Meu Deus, o que p´ra qui vai. Isto está pior que aqueles dramas de faca e alguidar. Até aquelas pedrinhas da calçada já devem estar também a chorar.
    Depois disto o que é que eu hei de dizer sem correr o risco de deitar mais lenha para o lume.
    SÓ vou dizer isto nos nossos passeios e comezainas Temos sempre dois parceiros virtuais e permanentes que são o Santos Oliveira e o nosso Grande Almirante Vasco da Gama. Quando puderem apareçam, mas enquanto não aparecerem estarão sempre connosco nas nossas deambulações.
    E agora para terminar continuo a pensar que a CORJA já devia estar no Campo Pequeno, que eu também sou amigo dos animais.
    Um grande abraço, mesmo bem apertado para todos.
    Adriano Moreira

    ResponderEliminar
  6. Como se pode vêr o Santos Oliveira não falha ainda conseguiu meter o comentário dele antes do meu.
    É assim mesmo, está sempre connosco.
    Mais um grande abraço.

    ResponderEliminar
  7. Um àparte de um àparte destinado ao Vasco:
    Ter um 69 como referência, é uma raridade nos dias de hoje.Mais, é um sentimento da perfeição. Como algo assinado pelo Souro Moura ou pelo Sócrates ou pelo Pinto da Costa.Ponto.
    A Juventude de hoje, seja a da à Rasca ou outra qualquer, daria em troca do seu canudo o sentir e falar (?) dladladla se soubesse.

    ResponderEliminar